top of page

Busar no CineGRI

124 itens encontrados para ""

  • Sweet Tooth e a cura que procuramos.

    #ParaTodosVerem [Fotografia]: Na imagem temos o personagem “Gus” um menino híbrido com chifres de cervo, olhando para uma árvore de flores roxas e congeladas. Existe uma luz vermelha atrás do garoto. Fonte:  https:// www.netflix.com/br/title/81221380     E se o problema do planeta terra forem os seres humanos? É com essa premissa que a série “Sweet Tooth” (Jim Mickle, 2024) é encerrada. “Gus” (Christian Convery) uma criança metade humano e metade cervo, simboliza o início de uma pandemia que irá afetar o planeta de maneira nunca vista. Todas as crianças nascem com características que se dividem entre a espécie humana e outros animais, além do surgimento de uma doença altamente contagiosa e letal que dizima praticamente toda a sociedade, mas não afeta essa nova espécie, tornando o cenário da trama pós- apocalíptico. Logo que as crianças começam a nascer, ocorre o estranhamento, repulsa e preconceito pela maioria da sociedade, que inicia uma caça para o extermínio destas novas criaturas. O planeta se torna um lugar hostil, principalmente para o protagonista, que sente a necessidade de buscar uma solução para esse cenário. Entretanto, ao fim da trama, é demonstrado que humanos, devido a sua violência, consigo e com o meio, teriam sido castigados pela natureza, sendo o seu fim a cura tão procurada por “Gus”. Infelizmente, a violência na sociedade não se restringe à ficção, podemos citar inúmeros exemplos dos danos causados pelos seres humanos. Por exemplo, até o final de 2023 mais de 117 milhões de pessoas estavam deslocadas de maneira forçada, devido a situações como a violação de direitos humanos, violência e conflitos, esses dados aumentam há 12 anos. Já no meio ambiente, pesquisas apontam que 2023 foi o mais quente registrado, superando a média dos registros de 174 anos. As concentrações de gases estufa aumentaram e a segurança alimentar continua sendo um preocupante problema, agravada pelas mudanças climáticas. Os dados apresentam exemplos de crises humanitárias e ambientais, todas causadas pela mesma espécie. #ParaTodosVerem [Fotografia]: No centro da imagem temos um homem careca com óculos redondos de lentes vermelhas e barba branca comprida, vestindo um uniforme do exército dos “últimos homens” (exército criado na série para exterminar as crianças hibridas). O homem está segurando os chifres de cervo do “Gus”, menino híbrido, que está vestindo um colete marrom e apresenta um semblante triste. Fonte:  https:// www.netflix.com/br/title/81221380 É notável que talvez nossas escolhas e ações não são as melhores para garantir nossa permanência. O mundo já passou por diversas mudanças, e atualmente as transformações são cada vez mais rápidas e significativas, demostrando um perigo caso essas ações não levem em consideração a qualidade de vida da população e os impactos no planeta. Nesse sentido, os níveis de desigualdade de vida são cada vez maiores, como consequência do avanço de movimentos que pouco consideram questões sociais e necessidades públicas, evidenciando que o individualismo vem crescendo no mesmo ritmo. O mundo como nos fazem crer é formado por fábulas, como afirma Milton Santos (2001), ou seja, são diversas as narrativas utilizadas para que as engrenagens do capital continue girando. Diferente do que aconteceu com “Gus”, não vamos encontrar uma árvore mágica capaz de decidir o futuro da humanidade. Mas, sem sinal de mudanças, talvez essa fosse nossa melhor chance.     Jhennifer Mariano , graduanda em Geografia pela UFSCar. #SweetTooth #Natureza #Violência #Geografia #Desigualdade Referências bibliográficas: Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).  Dados sobre refugiados . 2024.  Disponível em:  https:// www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugiados/ .  Acesso em: 20 jun. 2024.   SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal . Rio de Janeiro: Record, 2001.   SWEET Tooth. Direção de Jim Mickle. [S.L]: Solanaceae; Team Downey; Dc Entertainimrnt; Warner Bros. Television, 2024. Son., color. Disponível em: https:// www.netflix.com/br/title/81221380?source=35 . Acesso em: 20 jun. 2024.   WMO.       State       of       the       Global      Climate       2023 .      UN,       2024.      Disponível      em:  https://library.wmo.int/viewer/68835/download?file=1347_Global-statement-  2023_en.pdf&type=pdf&navigator=1. Acesso em: 20 jun. 2024.

  • O direito à cidade e a luta pela educação!

    O direito à cidade e a luta pela educação em “Espero tua (re)volta” Geovanna Ribeiro Ferreira Em 2015, ocorreu um plano para reorganização escolar pensado pelo governo de Geraldo Alckmin que tinha como projeção o fechamento de mais de 100 escolas públicas. A proposta não foi bem recebida pelos estudantes secundaristas, que tentaram um acordo com o governo e ao não terem suas demandas atendidas, ocuparam suas escolas. Nesse contexto, foi gravado o documentário “Espero tua (re)volta”, dentro do movimento estudantil, produzido e narrado por adolescentes que não aceitavam suas escolas fechadas. O movimento estudantil cresceu e conseguiu derrubar a ordem do governador, se espalhou para o resto do Brasil e mudou a gestão de diversas escolas. Através da luta dos estudantes, é revelado um desejo de viver os espaços, e não apenas perpassar por eles. Na obra “Direito à cidade” de Henri Lefebvre, o questionamento sobre como o modo que se realiza a vida urbana pode ser visto na luta dos movimentos sociais, como a dos secundaristas. A partir da análise de Lefebvre, no espaço é possível ler a realidade e as possibilidades concretas de realização da sociedade, aqui mora a vida cotidiana e o lugar, e onde explodem os conflitos como uma consciência reveladora do processo de alienação atual. A negação ao direito de uma educação de qualidade vivida pelos adolescentes em 2015 e atualmente aqui é interpretada como parte de um projeto de afastamento do sujeito produtor da sua obra -a cidade- com um estranhamento. Para o autor, a crítica é o caminho da transformação. Primeiro a crítica à questão existente, depois o pensamento crítico deve indicar o caminho de passagem do fenômeno à análise, entender as questões em contradição que são capazes de orientar o mundo em direção ao futuro transformado. A crítica e a manifestação realizada pelos secundaristas revela uma resistência à construção de um mundo moderno que é determinado espacialmente pelas mercadorias, onde a cidade se transforma em mercadoria. A resistência deles revela uma projeção de futuro transformado, com sujeitos que buscam emancipação desse processo destrutivo.

  • O início da Primavera Árabe

    #ParaTodosVerem: A fotografia tem como centralidade um garoto pequeno, ele está nos ombros de um homem, com seu rosto encostado na cabeça do mais velho. Na bochecha está pintada a bandeira Síria, assim como em sua testa tem dizeres em árabe sírio. No plano de fundo, desfocado, existem mais bandeiras sírias de diferentes tamanhos e a percepção de uma multidão em volta. "Assim que abro meus olhos" é um filme lançado no Brasil em 12 de janeiro de 2017, da diretora Leyla Bouzid, que se passa na Tunísia de 2010 meses antes da revolução que iniciaria um dos maiores movimentos da história e geopolítica contemporânea: A primavera árabe. Com um enredo emocionante e crítico, além de belíssimos planos e ótimas atuações, Assim que abro meus olhos nos mostra uma micro e macro revolução, a primeira sobre a condição da protagonista Farah (Baya Medhaffer), que se vê entre a vontade familiar e sua vontade individual, e a segunda sobre a condição da sociedade tunisiana, que se encontra no estado de repressão acima citado. Não haverá spoilers sobre o filme, afinal ele é surpreendentemente belo e triste, qualquer informação sobre seu desenvolvimento e finalização tiraria a surpresa, então pegarei o contexto do filme para o grand finale deste humilde texto. Uma juventude inflamada pelas injustiças sociais, que vê mais que necessária uma mudança e que deseja lutar pelo novo. A micro revolução que Fayah necessita transforma-se na luta por uma nova Tunísia. Na vida real o incidente incitante para a ebulição da revolta (Engels descreve que a revolução não é de uma hora para outra assim como a água não entra em estado de ebulição do acaso, são uma série de eventos que vão alimentando a revolta até um evento que é o estopim) foi Mohamed Bouazizi, um jovem que se recusou a pagar propina aos policiais tunisianos e teve sua banca de frutas atacada por tais agentes e ateou fogo em seu corpo em forma de protesto. Tal evento abalou a população do país e alimentou a concretização da revolta popular. John R. Barber fala que o maior erro da globalização é democratizar o capitalismo e não a democracia em si, o que nos leva a pensar sobre os efeitos da democracia liberal. A Assembleia Constitucional Democrática (RCD) controlou duramente o país da independência até 2011, tendo como chefes de Estado apenas dois homens: Habib Bourguiba, que tinha o cargo vitalício de primeiro-ministro, mas que fora destituído do cargo por seu ministro Zine El Abidine Ben Ali, que, com apoio do exército e do amparo político da RCD, se manteve no cargo durante 23 anos, mesmo com acusações fortíssimas de corrupção e supressão de direitos humanos básicos. Contudo, onde estava a grande nação que lutou diversas guerras pela liberdade dos povos? A Tunísia desde a sua independência teve forte alinhamento com o mundo ocidental, assim como tantos outros repressivos governos pelo mundo árabe. Um ponto em comum entre todos esses governos é a dualidade entre uma elite rica e dominante, e uma população pobre e que tem como submissão a única garantia de sua sobrevivência. Kadhafi, Mubarak, Bashar al-Assad, como tantos outros utilizavam da opressão social e violência para manter o status quo da sociedade, utilizavam essas ferramentas para conter a ebulição da revolta, para esconder a luta de classes. “Até hoje, a história de todas as sociedades é a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e aprendiz; em resumo, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travando uma luta ininterrupta, ora aberta, ora oculta — uma guerra que terminou sempre ou com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta.” (MARX; ENGELS, Manifesto do partido comunista) Levitsky e Ziblatt demonstram em seu livro “Como as democracias morrem (2017)“ a maneira como as democracias estão morrendo e de forma legal. Utilizo esta obra não apenas para analisar como as democracias estão morrendo, mas também como algumas democracias já nasceram mortas. Uma passagem deste livro para demonstrar como um líder é autoritário mesmo seu poder sendo legítimo e constitucional, são quatro indicadores que os autores utilizam para identificar comportamentos autoritários: rejeição das regras democráticas; negação da legitimidade dos oponentes políticos; tolerância ou encorajamento à violência; propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia. Isso demonstra como a democracia tunisiana já nasceu morta, afinal uma democracia que dá um cargo vitalício de comando para um homem e depois permite a reeleição sem limite de outro homem, não dá para ser caracterizada como democracia, apenas como uma sociedade na qual você pode comprar algo. Tais sociedades, principalmente durante a guerra fria, serem contidas no espectro do “mundo livre” é assinar que a sociedade de mercado se preocupa mais com a nossa liberdade de compra do que com nosso desenvolvimento humano livre, digno e universal. Esse evento ecoou pelo mundo árabe, derrubando diversos regimes autoritários e inflamando todos aqueles que se sentiam oprimidos, injustiçados e esquecidos. Essa é a verdadeira democracia: um governo do povo, pelo povo e para o povo. Não confunda liberdade material com liberdade universal, não confunda democracia com liberdade de escolher qual carro comprar, pois quando John Locke determina como direitos naturais do HOMEM (HOMEM, BRANCO, RICO, EUROPEU) vida, liberdade e propriedade, não se esqueça que ele tentava justificar a escravidão; não esqueça também que as grandes primeiras nações liberais tinham um forte apreço pelo patriarcado, escravidão e colonialismo; não se esqueça que há comida suficiente para alimentar o mundo indo pro lixo; não se esqueça que a pessoas morrem em guerras criadas pela elite. Então agora encontramo-nos como Farah, na linha tênue entre o sonho e a realidade, podemos tentar viver o sonho, mas a realidade não se alterará, a luta de classes não cessará. Lucas Antonio Graduando em Geografia (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019/2020.

  • A “mamata” acabou?

    #ParaTodosVerem [FOTOGRAFIA]: Boneco inflável gigante da imagem de Jair Bolsonaro, com a faixa presidencial. Do lado inferior direito há uma bandeira do Brasil, e algum cartaz ilegível. Ao redor desse cenário, há muitas árvores. "Dark Money" é um documentário estadunidense de 2018, dirigido por Kimberly Reed, sobre o grande papel do dinheiro corporativo nas eleições dos Estados Unidos. O filme explora uma decisão judicial no estado de Montana que permitia o livro financiamento de campanhas eleitorais por empresas e as implicações dessa decisão, tal como o privilégio de pessoas com dinheiro nas deliberações políticas, dado que aquele candidato eleito com o patrocínio de uma determinada empresa, durante o seu mandato, seguirá os desejos dessa corporação. No Brasil, a doação de empresas para candidatos é proibida desde 2018, o que não significa que a prática não aconteça. Durante a eleição presidencial de 2018, Jair Bolsonaro, sem partido, declarou 2,5 milhões de reais em doações, entretanto, uma reportagem do jornal Folha de São Paulo mostra que empresas compraram pacotes de disparos em massa de mensagens contendo fake news contra o Partido dos Trabalhadores, legenda do então maior adversário de Bolsonaro, Fernando Haddad, no WhatsApp. Os pacotes chegaram a custar 12 milhões de reais cada. Os valores, além de não terem sido declarados pela equipe de Bolsonaro, são ilegais [1]. Três anos depois, no 2021 pandêmico de Bolsonaro, eleito sob o lema de anticorrupção, mais denúncias surgem. Ao longo da pandemia, o governo federal gastou cerca de 23 milhões de reais com propaganda de tratamento comprovadamente ineficaz para Covid-19, com os medicamentos hidroxicloroquina e ivermectina, o chamado “kit Covid”, cuja movimentação no mercado aumentou 550%, cerca 550 milhões de reais. Entre as empresas que lucraram com o comércio está a Apsen, cujo dono é Ricardo Spallicci, bolsonarista convicto [2]. Mais recentemente, o nome de Bolsonaro também esteve envolvido no escândalo de corrupção nomeado “Rachadinha”, em que assessores de deputados devolviam seus salários aos participantes do esquema, no qual o presidente era responsável pela cobrança dos pagamentos ilegais [3]. Para completar, o governo federal também está envolvido em um plano de superfaturamento na compra de vacinas [4]. O brasileiro que assiste Dark Money (2018), é levado imediatamente à situação política atual, um verdadeiro espetáculo de corrupção. O atual presidente, que se vendeu como um exemplo de transparência e lealdade com o povo, é, na realidade, aliado de grandes corporações e visa apenas o próprio benefício. O filme, apesar de documental, poderia se confundir sem problemas com um suspense jornalístico e sua denúncia nunca esteve tão atual. #CORRUPÇÃO #POLÍTICA #EMPRESAS #BOLSONARO #CLOROQUINA Mariana Ramos Graduanda em Ciências Sociais (FFLCH – USP) e bolsista do Projeto CineGRI. Referências bibliográficas: [1] Quem financia e quanto custa a campanha de Bolsonaro no WhatsApp?. Carta Capital, 2018. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/empresarios-bancaram-campanha-anti-pt-pelo-whatsapp-diz-jornal/ Acesso em: 09.07.2021. [2] GUSSEN, Ana. O que há por trás do lobby de Bolsonaro pelo uso da cloroquina. Carta Capital, 2021. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-ha-por-tras-do-lobby-de-bolsonaro-pelo-uso-da-cloroquina/ Acesso em: 09.07.2021. [3] Corrupção provada: áudios mostram que Bolsonaro é o 01 do Rachadão. Site do PT, 2021. Disponível em: https://www.pt.org.br/corrupcao-provada-audios-mostram-que-bolsonaro-e-o-01-do-rachadao/ Acesso em: 09.07.2021. [4] "Estamos há dois anos e meio sem corrupção", afirma Bolsonaro. Correio Braziliense, 2021. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/07/4936260-estamos-ha-dois-anos-e-meio-sem-corrupcao-afirma-bolsonaro.html Acesso em: 09.07.2021

  • Refugiados e a questão xenofóbica no Brasil

    #ParaTodosVerem: Uma máquina de escrever toma toda a fotografia, no papel anexado a ela contém a palavra "REFUGEES", traduzido do inglês, refugiados. Segundo dados da ACNUR [1], os países considerados “em desenvolvimento”, pela agência, são os que mais recebem refugiados em todo o planeta. Nesse cenário, as principais nacionalidades das solicitações em trâmite no Brasil são aquelas oriundas da América Latina e da África [2], cujos imigrantes se dirigem às grandes cidades em busca de melhores condições de vida - um melhor emprego, uma melhor educação, uma melhor situação para constituírem suas famílias; se considerarmos, porém, a amplitude de causas que originam um deslocamento forçado, para além dos requisitos previstos para a qualificação de refugiado, que acabam por excluir razões econômicas, o número poderia ser ainda maior [3]. Ocorre que, ao pisarem em solo brasileiro, sua jornada de luta pela sobrevivência passa a trilhar apenas um começo. Embora o país tenha sua trajetória demarcada por várias ondas de imigração, do Norte ao Sul geográfico, sendo os retirantes parte da construção do povo brasileiro, nossa sociedade nem sempre favoreceu a entrada de grupos e indivíduos que se desviassem do estereótipo eurocêntrico almejado pelas elites. O Decreto-Lei nº 7.967, de 18 de Setembro de 1945, revogado apenas na década 1980, foi taxativo em seu art. 2º: "Atender-se-á, na admissão dos imigrantes, à necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência européia, assim como a defesa do trabalhador nacional. (grifo meu)". A lei reflete, em uma de suas faces, a cultura de uma civilização. O curta-metragem 100% Boliviano, Mano (RIFF e ONÇA, 2013) ilustra este paradigma. Choco é um jovem boliviano que vive junto com sua família de costureiras, no bairro do Bom Retiro em São Paulo. Um exemplo que traz luz ao debate se refere aos preconceitos sofridos por ele, em sua escola, por parte dos colegas de classe, inseridos no contexto social de repúdio à diferença. Além desse aspecto, a xenofobia, isto é, a aversão ou rejeição a coisas ou pessoas estrangeiras [4], também se encontra na carência de políticas públicas que deem suporte ao duro percurso desses imigrantes, estando a tarefa à disposição de organizações sociais que se mobilizam com a causa. Em decorrência disso, um último elemento está na dificuldade de se inserirem no mercado de trabalho formal, pelo estigma da "mão de obra barata": o que confronta os sonhos de Choco de não ser “mais um” costureiro em sua família. A xenofobia pode ser observada no Brasil em atos cotidianos e discursos políticos voltados às pessoas vindas dos continentes supracitados, reduzindo-as a um "peso" aos cofres públicos ou mesmo a uma "ameaça" à soberania nacional. O “muro” moral que se levanta a essa classe de imigrantes torna-se opressor, uma vez que se ignora sua situação de refúgio, em que, como tais, forçosamente, diante de fatores políticos, econômicos ou mesmo ambientais, tiveram de deixar para trás seus laços e raízes para se estabelecerem no novo país. Por não serem assim reconhecidos, são vistos e tratados como objetos de caridade, e não como portadores de direitos, como nos mostra Morikawa (2006). Sendo eles vulneráveis, a cultura xenofóbica existente no Brasil auxilia o tratamento discriminatório vivenciado por esses grupos diariamente, desmistificando a imagem de povo acolhedor - derivada de uma cordialidade aparente, apontada por Holanda (1936) - a qual o país se posiciona em suas relações. Mesmo ao apresentar hostilidades, o Brasil continua a ser o destino de centenas de bolivianos, venezuelanos, cubanos, haitianos, nigerianos e outros tantos, pois todos esses migram por necessidade, e projetam seu futuro com o fim de obter a naturalidade brasileira, tendo em vista o país destacar-se entre outras opções, e particularmente, em relação à América Latina, ser próximo daqueles que migram. Choco, por ser pessoa humana, "tem direito a ter direitos", como apresentou Hannah Arendt (1989), e como consagrado no art. I da Declaração Universal dos Direitos Humanos [5]. O que se vê, na prática, é o descumprimento reiterado à proteção, pelo país, e ao respeito, pelos cidadãos, aos refugiados. A sua recusa pelo Brasil, que se exterioriza em atos e discursos de ódio lançados contra sua existência e condição, representa uma contradição à própria história do país, que marcadamente se constrói, como visto ao longo dos últimos séculos, pela pluralidade cultural, étnica e racial em todas as camadas sociais. Rebeca Olívia dos Santos Graduanda em Direito (USP) e bolsista do Projeto CineGRI Referências [1] UNHUR. Disponível em: . Acesso em 30/05/2019. [2] UNHUR. Disponível em: . Acesso em 30/05/2019. [3] “O crescimento do número de empobrecidos contribuiu para o incremento da migração internacional que, no ano 2000, pode ter atingido 185 milhões de pessoas, de acordo com a divisão da população da ONU. Diante disso, surge a pergunta: Não seria a miséria uma nova forma de ‘perseguição’ motivada pela pertença ‘a determinado grupo social’? [...] as vítimas da violência, da miséria e das catástrofes naturais não se enquadram, de forma específica, na definição clássica de refugiado da Convenção de Genebra por não serem desamparados da proteção do próprio Estado. [...]” MILESI, Rosita. Refugiados - Realidades e Perspectivas Rosita Milesi. São Paulo: Loyola, 2003, p. 14-16. [4] Definição retirada do dicionário Michaelis. Disponível em: . Acesso em 1/08/2019. [5] “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Declaração Universal dos Direitos Humanos. 10 de dezembro de 1948. Art. I. Disponível em: . Acesso em 30/05/2019.

  • Duas Pandemias

    Qualquer um consegue trabalhar e economizar US$100 mil para viajar a Marte. Essa foi a declaração dada por Elon Musk em entrevista ao canal “TED”. O CEO da SpaceX e protagonista do novo documentário da Netflix, “De Volta Ao Espaço”, aumentou sua riqueza em 129% ao ano e se tornou o homem mais rico do mundo durante a Pandemia de Covid-19. Em contraponto, a previsão da Organização Internacional do Trabalho é de que a pandemia deixará mais de 200 milhões de pessoas desempregadas no mundo, evidenciando as diferentes condições das classes frente ao cenário pandêmico. #ParaTodosVerem [fotografia]: Na imagem possui uma edificação, que em evidência está o logo da empresa automotiva "Tesla", que tem como um dos seus fundadores o bilionário Elon Musk. No plano de frente, um tanto de desfocado, carros estacionados como em um estacionamento, que refletem a cor do céu em um entardecer. O documentário nos mostra rapidamente como Musk é uma figura polêmica e excêntrica. Ao fazer afirmações como essa, o empresário fecha os olhos para o outro lado da balança: a classe trabalhadora que carrega nas costas todas as mazelas causadas por essa crise sanitária. O bilionário e seus companheiros de classe não são os que sentem o impacto da alta dos preços de alimentos, combustíveis e medicamentos, e, certamente, não são os afetados pelo aumento das taxas de desemprego em diversos países. Ao dizerem que “qualquer um pode ficar rico” ou que basta o trabalhador economizar dinheiro para conseguir acumular uma fortuna, os bilionários incentivam uma meritocracia inexistente para os trabalhadores ao mesmo tempo em que lucram com a força de trabalho deles. #ParaTodosVerem [fotografia]: No centro da imagem existe uma cesta de mercado cheia de alimentos, sendo eles alface, abóbora, berinjela, pimentão e mamão. Essa cesta é segurada por um homem de camiseta branca com uma listra azul e outra vermelha. No canto direito da imagem existem batatas e pimentões vermelhos e verdes. Ao fundo, desfocado, há limões. http://site.cdljuazeirodonorte.org.br/alta-de-alimentos-pode-puxar-precos-de-outros-segment os-em-2021/ Enquanto 493 novos bilionários surgiam no cenário mundial, a população mais pobre foi obrigada a lidar com a redução da renda familiar. No Brasil, o número de desempregados foi maior entre os trabalhadores informais e pessoas com fundamental incompleto. O número de pessoas empregadas nessa faixa da população caiu 17% em 2020, mas o preço dos alimentos subiram 28%, fazendo com que muitas famílias fossem obrigadas a enfrentar a realidade da fome, diversas vezes recorrendo a comprar ossos ou produtos vencidos no mercado. Boa parte da população brasileira deixou de ter acesso ao saneamento básico, à alimentação de qualidade, à educação, à saúde e ao lazer. Ao mesmo tempo, a classe baixa foi a mais exposta ao vírus, sendo obrigada a encarar ônibus lotados e trabalho presencial. O mesmo não aconteceu com a classe alta, que nunca deixou de ter acesso a seus direitos e privilégios, podendo escolher onde e quando se expor ao coronavírus. É evidente que existem duas pandemias no Brasil e no mundo: a pandemia na qual os bilionários ficam mais ricos e a outra, na qual a classe baixa fica ainda mais pobre. Enquanto Elon Musk está preocupado com a ida a Marte, a classe trabalhadora está preocupada com a alimentação da semana e se vê obrigada a se sujeitar a condições cada vez mais precárias de trabalho para ter o mínimo, ou menos que isso. Mariana Monteiro, Geografia - USP. #pandemia #crise #bilionarios #classetrabalhadora #coronavirus TEMPO, O. Elon Musk diz que 'qualquer um' consegue economizar R$ 465 mil para ir a Marte. O tempo, 2022. Disponível em: . Acesso em: 19 de abril de 2022. NACIONAL, JORNAL. Efeitos da pandemia na renda dos brasileiros mudam negociações do aluguel. G1, 2021. Disponível em: . Acesso em: 19 de abril de 2022. O GLOBO, AGÊNCIA. Pandemia deixará mais de 200 milhões sem emprego no mundo até 2022, alerta OIT. IG Economia, 2021. Disponível em: . Acesso em: 19 de abril de 2022.

  • O caminho é uma terra inabitável

    Não faz muito tempo que São Paulo passou pela maior crise hídrica jamais vista. Em 2014, o nível do principal conjunto de reservatórios da região metropolitana, o Sistema Cantareira, chegou a 14,6%, o mais baixo desde que foi criado, em 1974. A população sofreu com interrupções de fornecimento que chegavam a 30 dias, era cada vez mais comum os banhos de canecas e o armazenamento de água inapropriado. #ParaTodosVerem: A imagem tem como foco em um chão de terra seca. A última pesquisa realizada pelo MapBiomas, mostra que o Brasil perdeu nos últimos 30 anos, 15,7% de sua superfície de água, esses dados representam 3,1 milhões de hectares, ou seja, já perdemos um Nordeste e meio de água. Esses impactos estão diretamente ligados ao nosso modelo econômico atual. O sistema econômico capitalista que sufoca e seca as nossas águas com seus grandes projetos lucrativos, é responsável por consumir grande parte de nossa água, parte do nosso abastecimento é destinada para manutenção de latifúndios e fábricas. Muitos se enganam achando que o maior culpado é o vizinho que lava a calçada com água, claro que não devemos desperdiçar a nossa água, mas é preciso entender a complexidade dessa cadeia de consumo e quais são os principais culpados pelo desequilíbrio climático que estamos enfrentando nos últimos tempos. #PraCegoVer [ANIMAÇÃO]: No centro da imagem, o personagem Wall-E (um robô) observa um objeto que o chama a atenção. O personagem está no meio de uma pilha de lixo abandonado pelos seres humanos. Fonte:https://www.omelete.com.br/filmes/wall-e-completa-10-anos-relembre-10-easter-eggs-do-filme#3 A consciência do nosso consumo desenfreado deve começar desde cedo, por isso, o filme Wall-e dirigido por Andrew Stanton (2008) é uma ótima opção para quem quer começar a entender o destino da humanidade, além disso, aborda vários aspectos interessantes que podem ser trabalhados na sala de aula. Esse clássico do cinema retrata de maneira sensível e divertida os rumos de uma sociedade que não se importa com a escassez dos nossos recursos naturais, fazendo com que parte dos seres humanos busquem outras formas para sobreviver. Essa produção cinematográfica parece distante da nossa realidade e ao mesmo tempo tão próxima das projeções que especialistas têm desenhado para o futuro da humanidade. No site do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apresenta uma matéria importante sobre a conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (COP26), evento que trouxe muitas preocupações e alertas, no relatório 2021 sobre a Lacuna de Emissões mostra que novas promessas climáticas nacionais combinadas com outras medidas de mitigação colocam o mundo no caminho certo para um aumento da temperatura global de 2,7°C até o final do século. O fato é que as projeções futuras não são otimistas e nos colocam frente a uma terra inabitável que pede socorro. É preciso fazer mais para garantir a manutenção da vida e isso significa abrir mão do lucro. Afinal, está nas mãos de quem? Amanda Escobar Costa Graduanda em História pela FFLCH-USP #problemasclimaticos #cinegri #filmes #geopolitica #walle Referência bibliográfica: Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021. PNUMA, Parceria UNEP DTU, 26/10/2021. Disponível em:https://www.unep.org/pt-br/resources/emissions-gap-report-2021. Acesso em: 25/11/21. BARIFOUSE, Rafael. Maior crise hídrica de São Paulo expõe lentidão do governo e sistema frágil. BBC Brasil, 2014. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/03/140321_seca_saopaulo_rb. Acesso em: 25/11/21. Crise hídrica: Brasil já perdeu um Nordeste e meio de água. GIFE em 04/10/2021. Disponível em: https://gife.org.br/crise-hidrica-brasil-ja-perdeu-um-nordeste-e-meio-de-agua/. Acesso em: 25/11/21. CRUZ, Fernanda. São Paulo sofreu pior crise de água de sua história em 2014, 24/12/2014. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-12/sao-paulo-sofreu-pior-crise-de-agua-da-sua-historia-em-2014. Acesso em: 25/11/21.

  • O novo nome da rosa: Ciência e Crença em tempos de Coronavírus

    Fonte da primeira imagem: HAZ #ParaTodosVerem [FOTOGRAFIA]: Duas imagens uma ao lado da outra, separadas por uma linha branca. A primeira mostra uma cena do filme O Nome da Rosa (1986), em que três homens circundam um cadáver deitado sobre uma mesa, sendo que um o examina. A segunda imagem mostra um médico examinando um paciente em uma ambientação adequada. Os acirrados debates que interpõem crença e ciência se acentuaram recentemente nos âmbitos público e privado em decorrência de um fenômeno pandêmico mundial: a COVID-19. A crise de credibilidade que a ciência vinha passando adquiriu novos contornos quando a discussão bizantina passou a determinar a vida e a morte de milhares de pessoas. O embate, que antes podia ser desprezado ou ignorado por alguns, se tornou uma questão de autodefesa, de nossa própria sobrevivência. A julgar pelos altos índices de inobservância das atuais regras sanitárias, não são poucos os que ignoram consensos da ciência para validar suas próprias crenças – para respaldar em termos quantitativos a relevância da questão. Diante desse cenário, um filme antigo nos aparece a assombrar por semelhança, mas não mera coincidência. Baseado no livro homônimo de Umberto Eco, O Nome da Rosa (1986) retrata a investigação realizada pelo padre franciscano William de Baskerville em um mosteiro beneditino italiano, onde ocorre uma série de estranhas mortes. Na última semana de novembro de 1327, sete monges falecem, cada um em um dia da semana, em circunstâncias misteriosas. O frade William, que havia recebido a missão de investigar a ocorrência de heresias no mosteiro, passa então a investigar os óbitos. A construção psicológica do padre William remete a uma representação do então novo intelectual renascentista, um homem com postura humanista e racional em oposição à mentalidade dogmática do homem medieval. Já os monges aparecem no decorrer do filme em uma série de cenas contraditórias, mostrando a insustentabilidade de suas crenças sob o ponto de vista racional. Assim, eles realizam flagelações, atos sexuais entre si, punições severas, dentre uma série de contradições à sua fé cristã. Através dessas representações, são construídas duas formas de se viver no mundo: a da crença, que tem suas bases frágeis, a ponto de nem mesmo seus fiéis conseguirem sustentar seus dogmas; e a da ciência, com base na construção racional e articulada nas investigações dos óbitos pelo frade franciscano. Sendo a todo tempo impedido de avançar nas investigações por ser desmoralizado pelos monges, que atribuem origens místicas aos falecimentos, nós vivemos a agonia do padre a todo instante. As conversas entre os monges no filme nos mostram o quanto eles repudiam a ciência, ou qualquer forma diferente se pensar ou viver que não seja a deles. Qualquer linha de pensamento contrária às suas crenças são consideradas heréticas e devem ser eliminadas. Assim, em forma de crítica, o diretor Annaud conseguiu transpassar a luta contra a mistificação e o esvaziamento dos valores pela demagogia em uma sociedade aparentemente distante da nossa. Dentre todas as teorias sobre a origem do nome da obra, uma me agrada mais: a da expressão “nome da rosa” ser utilizada pelos medievais para designar o poder das palavras. As palavras têm poder. Quem quer prova disso é só olhar ao nosso redor. Cassiano Ribas Graduando em Ciências Sociais (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo 2019/2020. #Coronavírus #Ciência #Crença #Cinema #COVID-19

  • Ganhamos ou perdemos? O que realmente significam as eleições estadunidenses de 2020?

    #ParaTodosVerem: Na imagem há apenas o tronco de homem, que veste uma blusa casual, em seu peito um broche com a palavra "Vote". Ele segura uma bandeira dos Estados Unidos nas mãos. Desde o início da década de 2010 [1], principalmente em sua segunda metade, cresce na Europa e na América a extrema-direita, marcada por um radicalismo nacionalista, populista, preconceituoso e conservador. Sob a bandeira nacionalista e anti-imigração, em 2016, os eleitores ingleses votaram a favor do Brexit, ou seja, decidiram deixar a União Europeia. Em 2017, na França, a candidata de extrema direita Marine Le Pen terminou a eleição presidencial em segundo lugar e o crescimento da Frente Nacional, seu partido, simbolizou uma vitória para o conservadorismo. No mesmo ano, em setembro, a Alemanha presenciou pela primeira vez, desde a Segunda Guerra Mundial, um partido de extrema direita conquistar o direito de ter representantes no parlamento, a AfD (Alternativa para a Alemanha) tornou-se a terceira força do legislativo [2]. A América não foge desse fenômeno. Em 2016, a vitória de Donald Trump ao cargo de presidente dos Estados Unidos, considerado a maior potência econômica do mundo, influenciou fortemente o “boom” direitista no continente americano. As vitórias em 2018 de Jair Bolsonaro, no Brasil, de Iván Duque, na Colômbia e de Mario Benítez, no Paraguai são, em certa medida, consequências desse marco e também representaram um avanço da direita e o crescimento da “Onda Conservadora” para a América [3]. No final de 2020, em contrapartida ao direcionamento político dos últimos dez anos, o democrata Joseph Biden venceu a eleição presidencial estadunidense, contra o republicano Donald Trump. Sua vitória foi fortemente celebrada e lida como vitória da esquerda e da democracia e tida como uma derrota ao “trumpismo” e à extrema-direita. Alguns partidos de esquerda no Brasil comemoraram e analisaram a derrota de Trump como um prenúncio da derrota de Bolsonaro no Brasil, em 2022. No entanto, no dia 06 de janeiro de 2021, durante sessão que certificaria a vitória de Joe Biden, o Capitólio, sede do Legislativo federal dos EUA, foi invadido por manifestantes de extrema-direita e seguidores fiéis de Donald Trump, que incentivou o ato através de suas redes sociais, alegando fraudes nas eleições de 2020 e, por consequência, a ilegitimidade da vitória de seu adversário [4]. A invasão do Capitólio chamou atenção do mundo inteiro para a fragilidade dos valores democráticos ocidentais e para o peso da força da extrema-direita, mesmo após a derrota de um de seus principais representantes. Outro elemento chamativo da invasão foi a presença de diversos símbolos naqueles que participaram do evento: muitos traziam consigo a bandeira da Confederação, representando a defesa da escravidão no século XIX, insígnias neonazistas e símbolos da Ku Klux Klan, organização supremacista branca. O episódio histórico é, em muitos aspectos, semelhante ao filme “A liberdade de Rosenzweig”, de 1998, que aborda o crescimento do neonazismo e do racismo na Alemanha nos anos 1990. O longa-metragem, dirigido por Liliane Targownik, começa com um ataque de um grupo de skinheads a um abrigo de imigrantes. Michael Rosenzweig, um dos sobreviventes do ataque, é perseguido pelo grupo e se defende com tiros. Na mesma noite, um líder neonazista é morto e Rosenzweig é acusado do crime. Durante todo seu julgamento, o protagonista deve lidar com a violência e a discriminação escancarada e orgulhosa da extrema-direita. O filme, inspirado em fatos reais, retrata um período delicado e sensível para a Alemanha, mas poderia facilmente se relacionar com o atual momento estadunidense. Apesar da vitória de Biden, a invasão no Capitólio sinalizou um alerta claro para a manutenção do peso da extrema-direita. Mesmo derrotado, Trump obteve mais de 7 milhões de votos a mais do que havia recebido em 2016 [5] e o número de deputados federais republicanos aumentou em dez cadeiras [6]. Esses dados demonstram que mesmo com o pobre desempenho de líderes de direita ao lidar com a Pandemia, a crise econômica e o desemprego, suas bases eleitorais permanecem fiéis. Tendo isso em mente, o resultado nas eleições estadunidenses significa uma derrota real para a extrema-direita? Se a vitória de Biden não significa uma perda de influência e popularidade da direita, como a alcançamos? Como respondemos a ataques à democracia e ao discurso de ódio tão presente na extrema-direita? O caminho que devemos traçar é pela via constitucional ou pelas ruas? #EXTREMA-DIREITA #TRUMPISMO #DEMOCRACIA #INVASÃODOCAPITÓLIO #ELEIÇÕESEUA2020 Mariana Ramos Graduanda em Ciências Sociais (FFLCH – USP) e bolsista do Projeto CineGRI Referências Bibliográficas: [1] ESTEFANÍA, J. Mas quem é essa nova direita que ganha espaço pelo mundo? Disponível em: . Acesso em 24/01/2021 [2] CHARLEAUX, J. P. Por que a extrema direita cresce no mundo, segundo esse estudo. Disponível em: . Acesso em: 24/01/2021 [3] Esquerda e direita na América do Sul. Disponível em: . Acesso em: 24/01/2021 [4] GUIMÓN, P. Trump "sem dúvida" causou invasão do Capitólio, diz advogado do 'xamã do QAnon'. Disponível em: . Acesso em: 24/01/2021. [5] CORRÊA, A. Eleição nos EUA 2020: por que a vitória de Biden não significa o fim do trumpismo. Disponível em: . Acesso em: 24/01/2021. [6] Vitória de Joe Biden não foi a que democratas esperavam. Disponível em: . Acesso em: 24/01/2021.

  • O cuidado, a sobrecarga e a desvalorização da dupla jornada feminina

    #ParaTodosVerem: Uma mulher cozinha segurando uma criança no colo. Ao lado (na pia) um notebook está ligado com a seguinte mensagem: home office. Disponível:https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/trabalho-e-formacao/2020/04/26/interna-trabalhoeformacao-2019,848505/sobrecarga-atinge-mulheres-durante-a-quarentena-deixando-as-por-um-fio.shtml Tema do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023, o ofício do cuidado escancara a falta de valorização da dupla jornada assumida majoritariamente por mulheres. A associação arcaica de funções que devem ser delegadas por gênero, reforça estereótipos femininos como: "mulheres são naturalmente mais zelosas", "são ótimas com tarefas do lar", "a maior ambição feminina é ser mãe" e há a ideia de que o homem, quando ganha mais no serviço, pode relegar à mulher os afazeres domésticos. Essas banalidades vigoram a configuração social e patriarcal que impactam a saúde física, mental e autoestima de cada mulher com si mesma. Segundo o site Oxfam [1], as mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado (90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito informalmente pelas famílias - e desses 90%, quase 85% é feito por mulheres.). Ao contrário da crença popular, o patriarcado não é uma espécie de "ordem natural das coisas", pois com os dados da Oxfam fica nítido que o sistema social que homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança, enquanto as mulheres são responsáveis pelo cuidado. Nas sociedades primitivas os homens saíam para caçar e pescar, enquanto as mulheres se encarregavam de preparar os alimentos, cuidar do lar e das crianças. A prestação de serviços para terceiros envolve muitas horas de dedicação e a economia do cuidado é essencial para a humanidade e para sua sobrevivência. Ao falar do trabalho de cuidado associam-se recorrentemente com a maternidade. A obra cinematográfica "Tully" (2018), aborda os desafios de uma mãe durante a gestação do seu terceiro filho. O filme apresenta de forma cru e real a vida da personagem Marlo, que é muito atarefada e desgastante, fazendo o telespectador refletir sobre a solidão e sobrecarga de uma mulher. A perda de autoestima da personagem conduz a história para ponderação de padrões utópicos que uma mãe deve se comprometer para atingir o bem estar da família. "Tully" (2018), fala das dificuldades enfrentadas para a mulher ultrapassar a fase do puerpério e como isso afeta fisicamente, emocionalmente e mentalmente. Cabe refletir, que este cenário não se limita a ficção, mas representa de forma clara a realidade de muitas. No filme, os diferentes estados da personagem principal durante o puerpério não a fazem "ser como antes", mesmo com o desejo ardente de recuperar sua vaidade e reacender seu casamento. Vale lembrar que além da maternidade, o cuidar de idosos e doentes físicos e mentais são outras funções que dispõem de tempo e disposição. Os desafios para valorização afetam a participação das mulheres na economia e suas resoluções não são somente estruturais, mas também culturais. Pâmela Vitória Nogueira Silva - graduada em Letras (FFLCH) e bolsista do Projeto CineGRI, ciclo 2023-2024. #ENEM #TRABALHODECUIDADO #SOBRECARGA #JORNADAFEMININA Referências bibliográficas: [1] https://materiais.oxfam.org.br/mulheres-contra-as-desigualdades (Acesso: 27/11/2023)

  • BRICS e os desafios da geopolítica

    #ParaTodosVerem [Fotografia]: Foto dos cinco representantes dos países do BRICS, lado a lado, de mãos dadas, em pé de frente a um cartaz azul (nele está escrito: XV BRICS SUMMIT - traduzido: décima quinta cúpula do BRICS). Da esquerda para a direita, estão presentes: o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva (homem branco, vestindo terno e calça azul escuro), o presidente da China, Xi Jinping (homem chinês, vestindo terno e calça pretas), o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa (homem negro, vestindo terno e calça pretas), o primeiro ministro da Índia, Narendra Modi (homem marrom, vestindo um modi kurta branco e um colete preto), o ministro de relações exteriores da Rússia, Sergey Lavrov (homem branco, vestindo terno e calça azul marinho). Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gz5nzlny5o BRIC é um acrônimo que se refere aos seguintes países: Brasil, Rússia, Índia e China. Foi criado em 2001 para designar um grupo de países que, neste século, apresentam condições políticas e econômicas para emergirem como novas potências mundiais. Por conta dessa importância e do cenário geopolítico, em 2006, esses países concretizam essa união ao oficializar um espaço de cooperação entre si com objetivo de possibilitar novos acordos que contribuíssem com sua expansão. Sendo que, em 2011, houve a adesão da África do Sul (acrescentando a letra S). Como consequência dessa aliança, o BRICS se consolida hoje como uma importante associação que tem capacidade de confrontar o poder representado pelos Estados Unidos e Europa, o chamado Norte Global, que ainda exerce enorme influência sobre diversas questões no âmbito internacional. Essa influência pode ocorrer segundo os princípios de Soft Power (“poder brando”) e Hard Power (“poder duro”) e que, com base no trabalho de Joseph Nye (2004), podem ser sintetizados, respectivamente, a partir das seguintes ideias: “atração” e “incentivos ou ameaça”. Filmes como Rocky IV (Sylvester Stallone, 1985) e A Hora Mais Escura (Kathryn Bigelow, 2012) podem esclarecer bem esses conceitos. O primeiro, por exemplo, ao retratar a luta entre dois boxeadores, deixa implícita uma determinada mensagem que busca exaltar os valores dos Estados Unidos. O personagem principal, Rocky Balboa, é um americano determinado e compreensivo que precisa vencer um rival russo, retratado como insensível e brutal. A ideia de “atração”, nesse caso, está associada à Guerra Fria, pois, em meio a uma luta ideológica, ambas as nações envolvidas nesse conflito usaram propagandas para defender suas ideias. A segunda obra, apesar de também poder ser criticada por exaltar as ações do exército americano na busca pelo líder da organização terrorista al-Qaeda, Osama Bin Laden, exemplifica como funciona o Hard Power: um país, com determinadas ambições, usa de seu poder político e militar para executar ações que ferem a soberania de outro país, utilizando incentivos ou ameaças para atingir os seus objetivos. E é nesse contexto de conflitos de interesse e busca por domínio que o BRICS apresenta-se como uma alternativa à hegemonia ocidental. Além de agregar cerca de 25,5% do PIB mundial, por abranger grandes territórios (Brasil, Rússia, Índia e China estão entre os 10 maiores do mundo) e uma grande população (são mais de 3 bilhões de pessoas no total), esses cinco países reúnem enormes reservas minerais e energéticas e também possuem um extenso mercado consumidor que está em contínua expansão, conforme se intensificam as negociações que contribuem com o desenvolvimento econômico mútuo. Por conta da gama de possibilidades de integração e comércio, novos países demonstram interesse de se juntar a esse grupo que fortalece as relações multilaterais e ajuda a garantir uma maior independência em relação ao controle americano e europeu. Assim, nesse ano, foi oficializada a ampliação do BRICS que, a partir de 2024, será composto por: Árabia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Com essas adições, o grupo passa a representar “uma grande parcela dos recursos naturais do mundo, como 72% dos minerais de terras raras e 42% do petróleo” (CNN Brasil). Dessa maneira, aumenta-se a influência e a relevância do BRICS dentro das relações internacionais, já que os países que o compõem passam a concentrar uma grande parcela de produtos essenciais para o funcionamento das atividades industriais em todo o mundo. Assim, o Sul Global se torna um ponto de mudança importante da ordem de poder mundial que permanece constante desde o fim da Guerra Fria. Porém, apesar do BRICS proporcionar uma maior aproximação entre os países, com iniciativas que buscam, por exemplo, atenuar problemas ambientais e culturais, também há polêmicas envolvidas nesse processo. Todos os Estados que vão se juntar ao grupo, com exceção da Argentina, são considerados não-livres pela organização Freedom House (BBC News Brasil) e, além disso, a Rússia, em 2022, realizou ataques à Ucrânia que culminaram num conflito que se estende até hoje. Essas situações, assim como tudo que foi exposto até aqui, revelam os diversos desafios que englobam a geopolítica mundial, que deve ser analisada abarcando sua complexidade, mas sempre sob a ótica da resolução de conflitos, da defesa da soberania, do progresso social e da paz. Hugo Freitas Moura - graduando em Ciências Sociais pela FFLCH-USP. #BRICS #Geopolítica #RelaçõesInternacionais #RockyIV #AHoraMaisEscura REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALMEIDA, Allan D.; MOREIRA, Anderson B.; STEDILE, Miguel E. BRICS: Uma alternativa ao imperialismo? Tricontinental, 2023. Disponível em: . Acesso em: 15/10/2023. DE MELO, Évila M.; ROCHA, Gustavo A.; SOUZA, Ellen G. Soft Power: a mídia hollywoodiana e a transmissão dos valores norte-americanos. Revista de Iniciação Científica em Relações Internacionais, Universidade Federal da Paraíba, Vol.5, No.9, pp. 57-68, janeiro de 2018. NYE, Joseph S. Soft Power: The Means to Success in World Politics. New York: Public Affairs, 2004. PRAZERES, Leandro. Expansão do Brics: bloco anuncia 6 novos membros. BBC News Brasil, 2023. Disponível em: . Acesso em: 22/10/2023. SCHMIDT, Thales. Na ONU, Lula defende Brics e ataca 'paralisia' de organismos internacionais. Brasil de Fato, 2023. Disponível em: . Acesso em: 23/10/2023 TORTELLA, Tiago. Entenda a Guerra da Ucrânia em 10 pontos. CNN Brasil, 2023. Disponível em: . Acesso em: 23/10/2023. YAZBEK, Priscila. Qual é o tamanho do novo Brics? Veja em números a dimensão do grupo de 11 países. CNN Brasil, 2023. Disponível em: . Acesso em: 22/10/2023.

  • Crise na Ucrânia: a quem interessa?

    É fato que a guerra aumenta a venda de armas, mobiliza a construção civil, a indústria, o comércio, elimina o excesso populacional no globo terrestre e fortalece a nação vencedora com poderio soberano sobre os outros países. Atualmente, vê-se a problemática crise na Ucrânia, mas a quem ela interessa? Para a Rússia do Vladmir Putin a OTAN está se aproveitando da complicada situação da Rússia dos anos 90 e iniciou uma forte expansão pelo leste europeu atraindo países que durante as épocas da União Soviética estavam dentro do núcleo de influência de Moscou. Nos anos 90, a Rússia se encontrava totalmente voltada para questões internas com o Presidente Boris Yeltsin direcionando os seus poucos recursos para impedir a ruína por completo do país, e então a OTAN teria se aproveitado do vazio de poder deixado pela antiga URSS no Leste Europeu, acolhendo países que foram importantes para a Rússia na segunda metade do século 20- com destaque para a Polônia e para os três países bálticos. Esse movimento de expansão levou a OTAN a se aproximar de países como Geórgia e a Ucrânia, países estes que devido às suas posições geográficas, pelo ponto de vista russo, atuavam como importantes obstáculos físicos para a expansão da OTAN. Expansão temida que levou a Rússia a duas guerras: uma na Geórgia em 2008, com tropas russas invadindo e ocupando até hoje as regiões da Ossétia do Sul e da Abkházia; e a outra guerra em 2014 com a Rússia invadindo e anexando a Criméia, região da Ucrânia, apoiando e financiando os separatistas pró russos em Donbass, iniciando uma guerra civil que já se estende por quase sete anos. Para a Rússia já é insustentável ter a OTAN ao longo de uma fronteira de quatrocentos quilômetros nos países bálticos, em hipótese alguma a OTAN poderá se estabelecer ao longo de uma fronteira terrestre de quase dois mil quilômetros na Ucrânia. Na visão do Presidente Putin, impedir a entrada na Ucrânia e da Geórgia na aliança, seria uma questão de sobrevivência para a Rússia. Contudo, a Aliança afirma que tudo o que está fazendo é respeitar a soberania das nações, frisando que ao contrário do que aconteceu nos tempos soviéticos quando as nações do leste europeu foram obrigadas a entrar no pacto de Varsóvia, a entrada de novos membros na OTAN, é um processo totalmente democrático e que conta com o apoio de referendos feitos em cada país candidato. A visão da OTAN é que se a Geórgia ou a Ucrânia desejarem entrar, e se estiverem respaldados principalmente pela vontade popular, então serão muito bem vindos. #ParaTodosVerem [Fotografia]: Um tanto desfocado, temos do lado inferior esquerdo, duas moças com capuzes. Em destaque, uma garota, aparentemente gritando, segura um cartaz que contém os dizeres "Stop Putin" (traduzido do inglês: "Parem o Putin"). No lado inferior direito há outra garota, que também grita, com uma pintura nas cores da bandeira da Ucrânia na bochecha. Fonte: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/zJu-IDkRsPA Ainda na visão da OTAN, a Rússia está violando gravemente a soberania de outros países ao atribuir a si própria poder de veto sobre quem pode ou não entrar na aliança. Ao analisar com profundidade as motivações de cada um dos lados, fica claro que a Rússia é de longe, a menos interessada em uma guerra com a Ucrânia, por um motivo bem simples: a Rússia apenas com financiamento de separatistas pró- russos, já consegue, atualmente, exatamente aquilo que deseja: impedir a Ucrânia de entrar na OTAN. Apesar dos EUA e da própria OTAN já terem dito que em caso de invasão russa não enviaram tropas para a Ucrânia, todas as semanas os ucranianos recebem centenas de toneladas de armas e munições da aliança, sendo essa uma indicação clara de que se a Rússia invadir, além de Moscou sofrer com sanções econômicas drásticas, os EUA e a OTAN transformarão aquele conflito em uma guerra por procuração através do apoio e financiamento à Ucrânia. Levando em consideração que este país tem um grande poderio bélico que vai desde armas à inteligência de captação de dados por satélite, ao mesmo tempo em que os EUA, a OTAN e a União Europeia bombardeiam a Rússia com rígidas sanções financeiras e comerciais, pode ser o suficiente para transformar aquele conflito em uma longa e desgastante guerra para Moscou. Poderia ser uma guerra longa e desgastante que enfraqueceria severamente a economia russa, já afetada pelas referidas sanções, por isso uma guerra na Ucrânia, interessa muito mais a OTAN e os EUA do que a Rússia, já que esse conflito além de desgastar imensamente a Rússia, poderia ainda incentivar outros países a entrarem para a OTAN- como por exemplo a Finlândia e a Geórgia. Zeffirelli, Fred. Letras,FFLCH-USP. Ator e criador de conteúdo digital. #crise #criseucrania #guerras #politicamundial #geopolitica #russia #eua #ucrania REFERÊNCIAS: Aranha, Carla. O que há por trás da guerra da Ucrânia: entenda. Exame, 2022. Disponível em< https://exame.com/mundo/o-que-ha-por-tras-da-crise-da-ucrania-entenda/> Acesso em: 17/02/2022 Conteúdo, Estadão. Não haverá guerra, diz Rússia em meio a tensões com a Ucrânia. Exame, 2022. Disponível em< https://exame.com/mundo/nao-havera-guerra-diz-russia-em-meio-a-tensoes-com-a-ucrania/> Acesso em: 17/02/2022 Hoje no mundo militar. A quem interessa uma guerra na Ucrânia. Youtube, 2022. Disponível em< A quem realmente interessa uma guerra na Ucrânia? > Acessado em: 21/02/2022 Riveira, Carolina. Rússia e Ucrânia podem desencadear uma guerra mundial? Entenda o conflito. Disponível em < https://exame.com/mundo/guerra-russia-ucrania-entenda/> Acesso em: 19/02/2022 Ruffato, Luiz. Capitalismo e guerra. El país, 2017. Disponível em< https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/12/opinion/1492009074_482693.html> Acesso em: 19/02/2022

bottom of page