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Foto do escritorGabriela Bucalo

Eu só quero é ser feliz


#PraCegoVer [Montagem]: A imagem retrata diversos jovens em um baile nos anos 80. No centro da imagem, está escrito “Eu só quero é ser feliz - uma breve história do funk carioca”.


Em março desse ano, a Polícia Civil do Rio de Janeiro pediu a prisão de diversos funkeiros, como MC Poze do Rodo e MC Negão da BL, por associação ao tráfico de drogas e infração de medidas sanitárias. A operação policial no Rio não é um caso isolado. Em São Paulo, mandados de busca e apreensão foram emitidos contra MCs paulistas, em uma investigação sobre tráfico de drogas e associação ao tráfico.


A perseguição do funk e da cultura da periferia não é novidade. Desde sua criação nos anos 80, os “bailes de corredor” eram frequentemente invadidos pela polícia e os artistas detidos. O curta-documentário “Eu só quero é ser feliz - uma breve história do funk carioca” (André Fernandes, 2016), disponível no canal do Youtube da Agência de Notícias das Favelas [https://www.youtube.com/watch?v=sZ8h_C4ArhY], conta a história e origem do funk que, nascido nas comunidades do Rio de Janeiro, começou com versões brasileiras de músicas estrangeiras. O diretor entrevista artistas como MC Marlboro, MC Galo, MC Geléia e muitos outros pioneiros do funk.


O ritmo inicialmente era tocado nos clubes, mas, como já indicava a letra “É som de preto, de favelado”, o funk logo começou a ser perseguido e os clubes de bairro que tocavam os sucessos da comunidade eram fechados ou tinham seu alvará de funcionamento cassados. Assim o funk foi expulso do asfalto e "confinado” no morro. A polícia e o próprio Estado trabalhavam e ainda hoje trabalham contra o lazer e cultura da periferia, dificultando o acesso aos bailes, perto de onde até mesmo motoristas de ônibus são orientados a não parar.


A favela e favelado sempre foram retratados na mídia como sinônimos de violência, perigo e ameaça. O funk vem para subverter essa imagem e levantar a autoestima das comunidades, exaltando as belezas e mostrando que, apesar dos problemas, a comunidade não é apenas aquilo que passa nas novelas e jornais.


No documentário Cidinho e Doca, os donos dos sucessos Rap da Felicidade e Rap das Armas contam que foram convocados a prestar esclarecimento em uma delegacia sobre a letra de sua última música. Frequentemente as letras que falam sobre o cotidiano dentro das comunidades são relacionadas com a apologia ao crime, mas elas retratam nada mais do que a realidade e o dia-a-dia das favelas.


#PraCegoVer [Imagem]: à esquerda um homem usando uma camisa branca, segurando uma câmera gravando dois homens negros: o do meio usa uma blusa com a frase “eu só quero é seu feliz”; o homem à direita utiliza óculos escuros e uma camiseta amarela, com detalhes em vermelho e preto. Fonte:https://www.anf.org.br/documentario-da-anf-conta-os-primeiros-anos-do-funk-carioca/


Desde sua criação o funk é criminalizado, mas o ritmo das favelas é mais do que um estilo de música, é uma forma de dar voz e oportunidade a milhares de pessoas que vivem as mesmas situações e se identificam com essa realidade. A cultura que nasce na periferia não é menos importante do que aquela consumida pelas classes dominantes, ela reflete a vida de um povo que tem sonhos, direitos e, como no título do filme e da música, só quer ser feliz.


Gabriela Bucalo

Bolsista CineGRI e Graduanda em Geografia FFLCH-USP



Referências bibliográficas:


BREDÂ, Lucas. Tensão entre o funk e a polícia vive novo auge com caso do MC Poze do Rodo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/07/tensao-entre-o-funk-e-a-policia-vive-novo-auge-com-caso-do-mc-poze-do-rodo.shtml Acesso em: 18 de Abril de 2021


GOUVEIA, Julianne. Documentário da ANF conta sobre os primeiros anos do funk carioca. Disponível em: https://www.anf.org.br/documentario-da-anf-conta-os-primeiros-anos-do-funk-carioca/ Acesso em: 20 de Abril de 2021


SILVA, Fabio. Filme sobre história do funk é lançado no Dia dos Direitos Humanos. Disponível em:https://www.anf.org.br/filme-sobre-historia-do-funk-e-lancado-no-dia-dos-direitos-humanos/ Acesso em: 20 de Abril de 2021





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