Depois de muitas expectativas, em 2021 é lançada a mais nova adaptação do complexo livro de Frank Herbert: Duna, dirigido por Denis Villeneuve. Por ser tão ambicioso, tão empolgante, essa ópera espacial já está concorrendo a dez indicações ao Oscar de 2022. Superando seu antecessor, dirigido por David Lynch em 1984.
Em um futuro distante, ocorre uma luta de poder entre duas casas nobres pelo direito de governar o planeta desértico “Arrakis” conhecido como Duna. Na qual se extrai uma substância rara chamada de Mélange (ou “a especiaria”), sem a qual, as viagens intergalácticas não seriam possíveis. Então, o jovem Paul Atreides (Timothée Chalamet), dono de um destino grandioso, é enviado para o planeta para que os seus habitantes possam garantir a paz.
#ParaTodosVerem: fotografia, em tons de azul e laranja de Paul Atreides empunhando uma Dagacris, uma faca sagrada feita de um dente de verme gigante. Atrás dele estão algumas rochas do deserto de Duna. Disponívem em: https://www.imdb.com/title/tt1160419/
O livro foi um marco na história da ficção, e serviu de inspiração para novas criações como as obras de Game of Thrones e Star Wars.
Apesar de se passar em um futuro extremamente distante e ter sido lançado em 1965, o romance possui uma mensagem explícita que se torna bastante presente, como a ganância, a crítica ao imperialismo americano e a sua exploração dos recursos naturais dos outros países (que inclusive tem causado problemas para os povos do oriente médio até hoje). Mas o que mais chama a atenção no filme, com certeza, é o perigo de seguir líderes ou qualquer outra entidade cegamente.
Mesmo sendo pouco explorado, sabemos que cada casa no filme possui uma hierarquia e um sistema de governo bem evidente. Um regime imperial, onde os nobres dominam os menos favorecidos em um sistema feudal.
Cada feudo possuí um exército, além do oficial do império. E seus habitantes depositam sua lealdade às casas, sem nunca as questionarem. Lutando apenas pelo interesse daqueles que os governam.
Não seria difícil de procurar alguns exemplos notáveis nos últimos tempos. Como o caso da invasão do Capitólio, durante as eleições, ocorrido nos Estados Unidos no dia 06 de janeiro de 2021. Onde centenas de simpatizantes do Ex-presidente Donald Trump tentaram impedir a legitimação da vitória de Joe Biden. Acreditando no discurso do Ex-presidente de que a eleição havia sido fraudada, ele não quis aceitar a derrota. O episódio gerou nove mortes e diversos feridos, repercutindo até hoje. Autoridades acusam Trump e seus colaboradores de incitarem a violência e de não impedirem que o desastre acontecesse.
No filme Duna, nos é apresentado uma ordem de mulheres com capacidades mentais e físicas superiores a qualquer ser humano, as “Bene Gesserit”. Dotadas de um poder conhecido como “a voz” usado para a manipulação direta da mente de seu alvo, o obrigando a obedecer aos seus comandos. Com tal proeza sendo usada por milênios para influenciar as famílias nobres e o próprio império. Além de disseminar mitos para continuarem mantendo o controle.
Propagação de notícias falsas não é nenhuma novidade no século XXI, e tem sido o foco de manutenção de poder nos últimos tempos.
No dia 15 de fevereiro de 2022, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, viajou para a Rússia, região de tensão pelos conflitos com a Ucrânia, na qual tropas russas estão alocadas e fez um tuíte, alegando que permanece em espaço aéreo russo, junto com uma foto de um jornal da CNN, onde se lê: “Rússia anuncia retorno de algumas tropas na fronteira”. Induzindo os leitores de que a presença do presidente brasileiro teria algo relacionado a uma apaziguação dos conflitos da região do leste europeu.
#ParaTodosVerem: captura de tela, tuíte de Jair Bolsonaro com a seguinte mensagem: “já estamos no espaço aéreo russo. Fuso: + 6 horas. Bom dia a todos”. Abaixo está uma foto de um jornal da CNN onde aparecem quatro jornalistas, com o título da matéria embaixo: “Tensão com a Ucrânia. Rússia anuncia retorno de algumas tropas na fronteira.” Disponível em: https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1493538780095160327
Não demorou muito para que grandes veículos de comunicação, simpatizantes do presidente, propagassem informações falsas. Vindas inclusive, do ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, que alegou que o presidente evitou a terceira guerra mundial e que deveria ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz.
O longa de Denis Villeneuve é de grande potencial, com mensagens atemporais. Desinformação, disputa por poder e consumo insustentável de recursos naturais. Não é preciso ir muito longe para testemunhar o futuro de Duna.
Matheus Cosmo
Graduado em Rádio e TV
E ainda tem muitos que acreditam nisso.Mas segundo Goebbels uma mentira dita muitas vezes torna_se verdade.
E olha que naquele tempo , não tinha internet.