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A‌ ‌abordagem‌ ‌científica‌ ‌vs‌ ‌religiosa‌ ‌no‌ ‌contexto‌ ‌de‌ ‌Darwin‌ ‌

Atualizado: 24 de jun. de 2020

A‌s dualidades entre Ciência e Religião presentes em diferentes esferas do filme "A Criação", de Jon Amiel

Fonte: Blog "Coruja Bióloga"


#PraCegoVer [Fotografia]: A imagem é inteiramente preenchida pelas figuras de um homem (que está do lado direito), e um macaco (que está do lado esquerdo), ambos sentados no chão. Eles estão apontando um em direção ao outro de forma que os seus dedos indicadores se tocam um pouco mais a esquerda do centro da imagem. O fundo é composto por grades.


O conflito entre ciência e religião, que recentemente vem assumindo grande projeção na mídia devido a falas e medidas tomadas pelo atual presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), perpassa questões relativas a nossa sociedade há séculos.


Tomemos como exemplo o filme A Criação (2009), de Jon Amiel, em que aborda os precedentes da publicação do "A Origem das Espécies" (1859) de Charles Darwin. O filme foi baseado no livro "Annie’s Box: Charles Darwin, his Daughter and Human Evolution” (A caixa de Annie – Charles Darwin, sua filha e a evolução humana, 2002), escrito por Randal Keynes, tataraneto de Darwin.


Logo nos dois primeiros minutos de filme, a arte que antecede a primeira cena do naturalista com a filha, já sugere essa dualidade que vai costurar a narrativa inteira, percorrendo até as esferas mais íntimas e morais dos personagens. Consiste em imagens de animação que demonstram todo o processo de formação de um ser humano, desde a fecundação. E podemos observar que ao final desta cena, a imagem do formato do braço do bebê remete a posição das mãos no quadro “A criação de Adão” de Michelangelo.


A dualidade permeia o filme não só em construções estéticas, narrativas e sócio históricas, mas também na biografia do próprio Darwin, que apesar dos seus questionamentos em relação a religião e a existência de um Deus, ainda viveu e foi enterrado dentro de rituais cristãos. Dualidade esta que também é presente na sua própria relação conjugal, já que tinha uma esposa religiosamente "fervorosa”, e que a mesma acaba por decidir pela publicação do livro ao final do filme.


Essas questões externas somadas ao falecimento da filha fazem com que Darwin (Paul Bettany) enfrente questões internas muito fortes relacionadas a sua moral. Que está presente durante a narrativa inteira através de visões que o naturalista tem da própria filha morta. No entanto, essas visões que ocorrem no filme estão longe de assumir um caráter de leitura no campo religioso, e sim de uma manifestação de seus pensamentos reprimidos por não poderem atuar livremente. O naturalista Parslow (Jim Carter) que o atende o adverte nesse sentido.


O filme também coloca em questão as transformações sociais e políticas que a teoria de Darwin teria, pois faria um questionamento direto à tese do criacionismo e logo, ao poder das igrejas. Nota-se também esse tipo de interesse em seu diálogo com dois de seus amigos no começo do filme, ao que é dita a frase “você matou Deus” com um certo entusiasmo por um de seus colegas.


Como vemos, a dualidade entre ciência e religião perpassa o filme em diferentes planos: o estético, o pessoal, o histórico, o social, o das relações e o psicológico (da moral também).


É importante ver como esse tipo de relação e a leitura sobre ela afeta em aspectos da nossa sociedade, tais como os valores e as suas relações de poder. O filme faz um recorte histórico de quando essas questões estavam sendo colocadas à prova e as relações que elas estabeleceram entre si, já que em determinado momento o próprio amigo de Darwin disse que àquela altura ele já tinha inimigos em metade da Europa. Trazendo para um cenário mais próximo, tomemos o exemplo os posicionamentos do atual Presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) em relação ao COVID-19. Chamando de “gripezinha”, indicando o uso do medicamento Hidroxicloroquina sem comprovação científica, transferindo a responsabilidade dos números de óbitos para os governadores e prefeitos, e por fim deixando de informar o total de mortes e casos pela doença, ainda se reunindo com representantes de TVs católicas para discutir alianças.


Assim como vimos no filme, essas questões referentes a crença podem ser diretamente ligadas a estrutura da sociedade e contribuem para um mecanismo de controle social, podendo ser apropriadas para defender discursos e medidas por parte de quem está no poder.


Nathalia Barreto da Silva

Graduanda em Letras (FFLCH-USP) e bolsista do Projeto CineGRI Ciclo (2019/2020).


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